“Toda semente traz em si a
promessa de muitas florestas.
Mas a semente não pode ser guardada.
Ela precisa doar sua intrínseca
Deepak Chopra
O maior desafio que se faz presente é o de incorporar novas formas pensamento, construção do conhecimento e de organização que continuadamente emergem das novas tecnologias da comunicação e informação presentes em nosso mundo globalizado.
Neste sentido, enquanto espaçotempo social, a escola não está conseguindo sintonizar sua prática com sujeitos aprendentes que vivem, de certo modo, imersos em suas experiências com estas novas formas de pensar, de construir conhecimentos, de organizar saberes. Uma nova ecologia se cria na interface dinâmica entre linguagens, tecnologias e racionalidades. Conectados, os sujeitos que de certo modo estão incluídos neste processo, vivenciam processos de estruturação de novas territorialidades, possibilitadores, acredito eu, de criações de modos diferenciados de conexão entre o que está presente no espaço do mundo e no espaço da escola, único modo de fazer com que a escola efetivamente se transforme num espaço realmente aprendente e significativo.
A Psicopedagogia, compreendida aqui como elemento deflagrador de reflexões sobre o ato educativo, pode ser importante para o mapeamento dos sentidos, das intensidades vividas no espaçotempo escola, observando e possibilitando momentos de reflexão sobre as diferentes concepções que os seus distintos atores e autores possuem sobre sua dinamicidade.
Assim, em aulas que tenho o prazer de ser mediador, o foco essencial que procuro colocar em tela é o de fazermos uma cartografia sobre os fundamentos da própria psicopedagogia, contextualizando-a historicamente e procurando, ao estudar sua gênese, tratar de um conjunto de idéias que mostre sua origem enquanto campo de conhecimento e, ainda, ressaltar os pressupostos teóricos que lhe dão sustentação.
Um aspecto importante é criar alternativas didáticas, onde o sujeito que está em formação reveja valores e questione modelos, concepções e paradigmas instituídos e possa construir oportunidades voltadas à elaboração de outros sentidos e ações para essas concepções.
Procuro, utilizando a proposta de oficinas psicopedagógicas, explicitar o diferencial que tais dinâmicas apresentam, relacionando e sinalizando a necessidade de estruturarmos novos territórios educativos, de elaborarmos novas ações e novas propostas ao agirfazer em Psicopedagogia.
Para que transformações aconteçam nas práticas pedagógicas e para que a escola efetivamente possa, de fato, ser lócus de construção de informações, conhecimentos e cultura, é essencial a articulação complexa, o desejo de conhecer outras possibilidades, a flexibilidade e a curiosidade em relação aos processos de interface com as diferentes racionalidades, tecnologias e linguagens. A Psicopedagogia busca compreender nosso humano papel nos espaços do aprender, para fazer emergir potencialidades que provoquem a desterritorialização daquilo que está instituído e, ao assim fazer, estruturar outras territorialidades, outras possibilidades.
Formação pessoal em Psicopedagogia: tema relevante?
Para que se possa estruturar outras territorialidades, outras possibilidades, um tema sempre me causou inquietação no que diz respeito à formação do psicopedagogo: sua formação pessoal. A profissionalização em Psicopedagogia exige uma formação acadêmica ampla e aberta a novas conexões, novas sinapses.
A proposta da comissão de cursos da ABPp, nossa associação de classe, é que possamos organizar conhecimentos e informações produzidos na área da Psicopedagogia, com o objetivo de nortear ações que façam com que o profissional em formação na área contemple trabalhos e tendências e, ao assim fazer, possam criar processos significativos de autoria de pensamento sobre o seu fazer, o seu pesquisar em Psicopedagogia.
Formação pessoal em Psicopedagogia exige a tomada de decisão de desenvolver competências e habilidades que voltem para a profissionalidade e o exercício consciente de uma práxis dinâmica, repleta de tensões, de dilemas, de desafios.
A compreensão maior que devemos ter neste sentido é a entender que a Psicopedagogia é um campo de ação prática e de conhecimento teórico voltado para os processos de aprendizagem e às dificuldades que são decorrentes de seu desenvolvimento.
Assim, a Psicopedagogia torna-se um campo de pesquisa e de conhecimento onde a atuação pessoal vincula-se a profissional de modo contundente, já que é preciso, na atuação interdisciplinar, voltar-se para os seus próprios processos de desenvolvimento enquanto ser humano que busca e procura significado e sentido para sua própria prática, sua própria vida. Ensinar e aprender - tarefas humanas primordiais- só é possível com a presença de processos de tomada de consciência nos planos pessoais e com análise aprofundada de nossas ações individuais, em grupo e nos espaços institucionais onde interagirmos.
Rever valores e normas, códigos de conduta, modos de ser e estar neste mundo é tarefa pessoal necessária para um sujeito cognoscente que deseje ser psicopedagogo possa ir adiante nesta profissionalização e encontre, em sua caminhada, efetiva modificabilidade nos seus modos de pensar o mundo, pensar o que é aprender, e qual a efetiva significação deste processo.
Assim como muitos professores que atuam em cursos de pós-graduação me Psicopedagogia, acredito que é essencial que aquele que faça psicopedagogia como especialização compreenda que aprender é a única forma de emancipação humana.
Autoria de pensamento: eixo fundamental de todo o processo.
Semear: uma palavra muito bonita e que pode ser geradora de sentidos múltiplos, onde muitas conexões são possíveis. Ao semear, lançamos a terra perspectivas, potencialidades, possibilidades. Mediar grupos em formação em psicopedagogia é um ato parecido com o do semeador: preparamos terreno, lançamos a semente ao solo, irrigamos, damos um pouco de calor, vislumbramos desejos que delas surjam saberes, vontades, desejos, poderes de mudança.
Com o semear psicopedagógico, podemos trazer à tona o fantástico e humano encontro com o desejo de aprender, com o prazer de pesquisar, de buscar alternativas, de fazermos valer a máxima de sermos eternos aprendizes. Penso assim minha práxis educativa hoje: lanço sementes pelos solos que a vida tem me ofertado e, ao assim fazer, contribuo com uma possibilidade de mudança, com uma busca criativa, que me leve além no sentido de colaborar para que outras pessoas encontrem a alegria de suas autorias ao libertarem suas inteligências aprisionadas.
O essencial é pensar de outros modos, é criar outras possibilidades, é conhecer e crescer de uma outra forma. A busca por uma resignificação de nossas práticas e por um modo diferente de aprender o que ainda desconhecemos, faz com que movimentos sejam vividos numa outra perspectiva: a da autoria de pensamento. Busco, enquanto mediador, ser elemento criador de espaços e tempos de reflexão que possam contribuir para modificar pensamentos sobre o ato de ensinar e aprender, mostrando que é no prazer que o aprender tem significação: somos todos sujeitos ensinantes e aprendentes.
Assim, a autoria torná-se um aspecto relevante do aprendente, porque com sua ação, sua fala, sua atenção e sua interação com os outros que neste mesmo grupo estão, há a criação do registro e o trabalho em grupo, buscando uma aprendizagem de fato significativa.
Como nos diz Fernandéz “é preciso abrir espaços subjetivos e objetivos para que a autoria de pensamento seja possível. É precisa coragem, ousadia para escrever e inscrever-se”.
O desafio a ser, continuadamente vivenciado, é esse: o de facilitar a construção de processos de autoria de pensamento e validar o que cada sujeito carrega em sua própria história. O objetivo maior é a conquista da competência da escrita e do reconhecimento da capacidade de ser autor. Não há, a meu ver, maior prazer.
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