segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Avaliação da Aprendizagem Escolar em uma Visão Psicopedagógica


Por Adaildes Cristina Sales de O. Santos
O presente artigo buscou desenvolver um estudo sobre a avaliação da aprendizagem escolar. Essa análise se fará numa perspectiva psicopedagógica, apresentando uma explanação inicial a respeito do significado da avaliação, conforme a visão dos autores citados. A principal motivação foi o desejo de conhecer e aprofundar os conceitos da avaliação psicopedagógica, pois assim as idéias dos referidos autores objetivou o surgimento de novas perspectivas para facilitação da difícil etapa da avaliação da aprendizagem que é um ato complexo, que deve ser feito com responsabilidade e comprometimento ético e moral.


A fundamentação teórica foi baseada nas várias opiniões de pesquisadores e filósofos educacionais como: Hoffman, Luckesi, Fernandez, Beyer, entre outros.

Os pontos de vista dos mesmos foram analisados, comparados e questionados. Através da pesquisa, demonstrou-se ao final da mesma que faz-se necessário redimensionar a prática da avaliação, recorrendo a subsídios psicopedagógicos para facilitar o trabalho de todos os envolvidos na prática pedagógica, devendo portanto ter um conhecimento aprofundado sobre os motivos que desencadeiam o fracasso escolar e as dificuldades de aprendizagem, buscando assim, novas idéias para que se compreenda e se vivencie, de fato, a psicopedagogia como uma área de atuação e de conhecimento voltada para os complexos processos de aprendizagem. Através deste, comprovamos como professores e psicopedagogos poderão contribuir para viabilizar a aquisição do conhecimento, levantando questões e sugerindo posturas, este trabalho destina-se a esclarecer que práticas poderão ser adotadas por educadores e psicopedagogos para fornecer práticas avaliativas eficazes que possam favorecer o conhecimento e resgatar o prazer de aprender. Palavras chave: avaliação, psicopedagogia, aprendizagem, conhecimento.
INTRODUÇÃO
Avaliação, em sentido amplo, é parte da vida diária de todo docente. Sem a orientação de quaisquer procedimentos formais, todos nós estamos continuamente formulando avaliação da aprendizagem sobre toda a gama de atividades humanas. No processo educativo a avaliação se reveste de suma importância, pois é uma instancia que sintetiza a aprendizagem de determinado conhecimento;não deve ser entendida simplesmente como um momento determinado e pré-fixado desse processo, mas como integrante dele, pois no mesmo instante que se realiza a aula, está acontecendo a aprendizagem;concomitantemente com o ensino, o professor e o aluno tem condições de perceber se a aprendizagem esperada está ocorrendo: estão avaliando, mesmo que não haja a preocupação de transformar essa avaliação "informal" em números ou conceitos, sem a necessidade imediata de quantificá-la.
Nesse sentido, a avaliação psicopedagógica nos permite dispor de informações relevantes não apenas em relação as dificuldades apresentadas por um determinado aluno ou grupo de alunos, por um professor ou alguns pais, mas também as suas capacidades e potencialidades. Desse modo, não falamos de deficiências nem de dificuldades, mas sim de necessidades educativas dos alunos que, necessariamente, devem ser traduzidas em situações passíveis de melhora e na concretização de auxílio e suporte. Partindo desse pressuposto, despertou-me o interesse de pesquisar a avaliação da aprendizagem escolar numa visão psicopedagógica.

Com o intuito de apresentar o tema de modo claro e objetivo, procurou-se definir de forma explícita as temáticas mencionadas como pontos norteadores da pesquisa, os seguintes objetivos:
üIdentificar diferentes conceitos e concepções de avaliação e sua aplicação no campo educacional na visão de vários autores.

Analisar a inter-relação entre os processos de avaliação escolar e sua repercussão no processo de desenvolvimento, ensino e aprendizagem;
üDiagnosticar as limitações /dificuldades diferenças no processo de avaliação e intervenção psicopedagógica para diferentes necessidades educacionais;
üCompreender os processos de avaliação escolar à luz de uma abordagem psicopedagógica.
Como metodologia para o desenvolvimento dessa monografia, utilizou-se a pesquisa bibliográfica na forma de revisão de algumas considerações como ponto de partida de autores na área de avaliação escolar e psicopedagógica.
No primeiro capítulo abordou-se o conceito da avaliação como processo inerente a existência humana, foram utilizados citações e concepções de vários autores, além de salientar as funções, objetivos,finalidades, e os tipos de avaliação.
No segundo capítulo, o foco principal foram as causas, conseqüências, fatores que interferem no processo de ensino aprendizagem desencadeando o fracasso do aluno.
No terceiro capítulo, ressalta-se o apoio da área psicopedagógica para a contribuição da dificuldade de aprendizagem e avaliação.
Por fim, realiza-se uma síntese dos principais pontos abordados nos capítulos precedentes. O destaque é dado acerca da avaliação da aprendizagem escolar e psicopedagógica.

AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM ESCOLAR

Uma apreciação mais integral poderá ser obtida através da avaliação de:
·Tipo de grau de dificuldade;
·Se é uma dificuldade parcial ou generalizada;
·Se é temporária ou permanente;
·Manifesta-se em determinados âmbitos ou contextos;
·Em relação aos conteúdos: se há falhas na aquisição dos mesmos;
·Se possui metodologia e estratégia de aprendizagem adequadas.
Para avaliar estes aspectos, a informação que nos podem oferecer a instituição educativa, seus professores ou outros informantes, é um recurso valioso. No entanto, também são importantes as considerações levantadas a partir da observação direta do desempenho do sujeito frente a nossas propostas pedagógicas. É importante destacar que, no contexto geral da aprendizagem, aparecem produções que apresentam variações significativas no desempenho escolar. Estas variantes são de suma importância de serem levadas em conta em uma avaliação.
Uma vez finalizada a etapa diagnóstica e avaliados os aspectos que consideramos pertinentes, terminamos de elaborar as hipóteses acerca do problema. Posteriormente, pensamos nas estratégias adequadas à sua abordagem. Estas se definirão de forma mais elaborada, quando a avaliação for compartilhada com os alunos e seus pais.
Dentro de uma concepção pedagógica mais moderna, baseada na psicologia genética a educação é concebida como experiência de vivência multiplicada e variadas, tendo em vista o desenvolvimento motor, cognitivo, objetivo e social do educando. Nessa abordagem o educando é um ser ativo e dinâmico, que participa da construção de seu próprio conhecimento. Dentro dessa visão, em que educar é formar e aprender é construir o próprio saber, a avaliação, contempla dimensões, e não se reduz apenas em atribuir notas. Se o ato de ensinar e aprender, consiste na realização em mudanças e aquisições de comportamentos motores, cognitivos, afetivos e sociais, o ato de avaliar consiste em verificar se eles estão sendo realmente atingidos e em que grau se dá essa consecução, para ajudar o aluno a avançar na aprendizagem e na construção do seu saber. Nessa perspectiva, a avaliação assume um sentido orientador e cooperativo.
Assim a avaliação assume uma dimensão orientadora, pois permite que o aluno tome consciência de seus avanços e dificuldades, para continuar progredindo na construção do conhecimento.

UMA NOVA PERSPECTIVA PARA A AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM ESCOLAR

Sendo a avaliação um tema tão abordado, verifica-se que apesar das tentativas de inovação, ela ainda continua fincada num sistema conservador, onde quem determina as regras é o capitalismo vigente. Sistema que acomoda os homens e, tornamdo-os seres vazios e desprovidos do verdadeiro conhecimento, já que seguem uma ideologia determinada pela elite, que não condiz com a realidade da maioria da população.
Kaufman (1993, p. 94, apud HOFFMAN, 1998, p. 14-5), afirma que a ênfase continua na testagem, a qual,
(...) proporciona uma justificação única para as diferenças individuais a fim de manter uma provisão constante de mão-de-obra barata e manter a estratificação de classe. O papel das escolas em uma estrutura capitalista behavorista é "produzir" trabalhadores que alimentam um sistema econômico desigual.
Observa-se desse modo, que a educação, numa abordagem tradicional, assume uma avaliação classificatória, a qual mantém a autoridade exarcebada do educador sobre o educando, quando necessitamos de uma educação que eleve o intelecto do homem, permitindo-lhe refletir sobre seu próprio mundo, a fim de transformá-lo.
Com isso, há grande responsabilidade da educação sobre o homem, a qual deve libertá-lo e conduzi-lo pelo caminho do real saber, que se percebe na criticidade e reflexão sobre o mundo. A tendência é estabelecer uma forma autêntica de pensar e atuar, sem dicotomizar este pensar da ação.
Hoffman (1998, p.18) comenta que é "interessante como os educadores reagem às questões de inovação que digam respeito à metodologia tradicional de aplicação de provas e distribuição de notas/conceitos periódicos".
Com base nesse comentário, vê-se que há grande problemática quanto a aceitação de inovações, já que os próprios professores ficam receosos. Afinal, a utilização da função diagnóstica da avaliação é eficiente, porém bastante trabalhosa e as pessoas estão acostumadas a produtos prontos e acabados, como é o caso da avaliação com função classificatória do ensino tradicional.
Outro fator importante apontado por Hoffman (1998) é que:
(...) As notas e provas funcionam como redes de segurança em termos de controle exercício pelos professores, do sistema sobre suas escolas. Controle esse que parece não garantir o ensino de qualidade que viemos pretendendo, pois as estatísticas são cruéis em relação à realidade das nossas escolas (idem, 1998, p. 26).
Esse controle é próprio da avaliação classificatória, pois na avaliação diagnóstica, não se utiliza essa forma repressiva, uma vez que os sucessos são conseguidos num processo contínuo de esforços mútuos, e o respeito é criado pelo próprio trabalho educacional.
Outro fator interessante é que no sistema tradicional as notas determinam o nível de aprendizado, taxando o intelecto dos alunos e registrando em definitivo o conceito a ele atribuído. Já no modelo diagnóstico, o aluno é visto em um contexto e avaliado passo-a-passo no decorrer do processo ensino-aprendizagem.
Assim, podemos dizer que avaliação classificatória só se preocupa com exames e notas, sem averiguar de fato em que fase do processo de aprendizagem o aluno se encontra, só se importando com erros e falhas que não são corrigidos. Ao contrário, na avaliação diagnóstica, o aluno é acompanhado em cada etapa do processo, procurando corrigir possíveis falhas e vislumbrando novos horizontes quanto ao conhecimento.
É notório também que na avaliação classificatória não há grande aprendizado, porque esta só se interessa com respostas imediatas e precisas, geralmente decoradas de livros. Já com a função diagnóstica a avaliação leva em conta situações que exijam reflexões, superando as respostas mecânicas e encontradas em manuais, e buscando experiências significativas com os educandos, ultrapassando as rotinas tradicionais.
Assim, a avaliação diagnóstica tem um papel importante para superar a classificação, pois ela se torna um instrumento de libertação e de busca do conhecimento.
Verificamos também que, enquanto a avaliação classificatória julga o aluno sem levar em conta sua historicidade, a avaliação diagnóstica o vê como sujeito histórico, buscando trabalhar a favor do desenvolvimento de suas competências. Com uma prática docente crítica que cumpre seu papel social e construtivo na medida em que assume o princípio político-social, comprometendo-se com o aprendizado do aluno, atuando de maneira dinâmica e interessada.
Percebemos, desse modo, que precisamos superar o ensino tradicional, com uma prática inovadora que redimensione a finalidade educacional. Para tanto, deve haver a participação de todos os que compõem a instituição escolar, a fim de democratizar o ensino, fazendo da avaliação um processo contínuo, dialógico, interativo, que vise fazer do indivíduo um ser pensante, crítico, autônomo e participativo, que leve a uma ação transformadora com sentido de coletividade e humanização.

FATORES QUE INTERFEREM NO PROCESSO DE AVALIAÇÃO

Trabalhar com dificuldades de aprendizagem na avaliação constitui verdadeiro desafio que, a cada passo conquistado, mostra-se abrangência e complexidade do tema.
Na verdade, falar dos problemas em aprender implica, em termos, abordar uma série de áreas e disciplinas que vão desde a neurologia até a psicologia, a pedagogia a assistência social, entre outras.
Muitos distúrbios neurológicos podem atingir tanto crianças quanto adultos, causando problemas de fala, de locomoção, de cérebro (raciocínio) etc. Esses distúrbios prejudicam qualquer tipo de aprendizagem.
Algumas observações levaram a algumas hipóteses. Professor e escola, envolvidos num processo sociocultural desestruturado ou mal estruturado, marcado pela inadequação pedagógica e pela deficiência de recursos materiais e humanos, entre outros problemas, procuram falha ou falhas em qualquer parte do processo, atribuindo-as sempre praticamente a problemas de origem orgânica ou física facilmente detectadas e visíveis na criança.
O problema, portanto, agrava-se sensivelmente no transcorrer do processo avaliativo, com injustificáveis desperdícios de tempo e mão-de-obra profissional, desgaste físico e emocional para criança e sem soluções objetivas para a escola.
Grande parte da dificuldade em definir, conceituar e, portanto, avaliar os problemas de aprendizagem surge basicamente da necessidade de diferenciar aquilo que é considerado como distúrbio de aprendizagem.
"Uma mensagem que precisa ser decodificada pelo professor, é uma mensagem que a criança emite, como um grito de desespero de incompreensão do que aconteceu, é um pedido falido de ajuda, (FERNANDEZ, 1991, p. 136).
Geralmente, dentro de nosso sistema educacional, a problemática recai sobre a criança de forma incisiva. Frases como "ela não aprende porque tem um problema¨ são comuns nos consultórios médicos e psicológicos. Contudo, os problemas apresentados estão relacionados a outros fatores, extremamente mais simples, como dificuldades socioeconômicas da nossa população e, porque não dizê-lo de nossas escolas, problemas não vinculados diretamente à incapacidade física para aprender. Essa situação provoca com isso, falsos diagnósticos e prognósticos sombrios.
Devemos reconhecer as inúmeras diferenças, entendê-las e respeitá-las. Percebe-se que em todas as escolas, em todas as séries, encontran-se alunos com problemas de aprendizagem, agressividade e com pouca estimulação para estudar. Estes alunos, muitas vezes são determinados e apontados como alunos problemas. São alunos que algum momento apresentou problemas em seu desempenho escolar, e nada foi feito ou muito pouco para compensar o que não aprenderam. Para a escola, às vezes representam casos perdidos, que quanto mais rotulados mais problemas apresentam.

AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

A avaliação psicopedagógica é a investigação do processo de aprendizagem do indivíduo visando entender a origem da dificuldade e/ou distúrbio apresentado. Como se vê seu objetivo é bastante diferenciado. Dependendo do conceito de avaliação que o psicopedagogo tenha, a avaliação psicopedagógica seguirá o mesmo modelo.
No caso de um profissional que adota a avaliação de cunho classificatório, certamente, irá utilizar um padrão de avaliação psicopedagógica baseada na definição de categorias de problemas encontrados. Por outro lado, se a postura for de utilização da avaliação de natureza diagnóstica, então, a avaliação psicopedagógica terá por finalidade identificar possíveis causas dos problemas e orientar quanto a melhor forma de trabalhar com o referido aluno.
De um modo geral, os procedimentos utilizados numa avaliação psicopedagógica incluem entrevista (s) inicial (is) com os pais ou responsáveis pela criança e/ou adolescente, análise do material escolar, aplicação de diferentes modalidades de atividades e uso de testes para avaliação do desenvolvimento, áreas de competência e dificuldades apresentadas.
Durante a avaliação podem ser realizadas atividades matemáticas, provas de avaliação do nível de pensamento e outras funções cognitivas, leitura, escrita, desenhos e jogos, dependendo do tipo de problema apresentado.
Em termos específicos é preciso considerar cada caso para que se proceda adequadamente no processo avaliativo. Contudo, em todas as situações, faz-se necessário iniciar a avaliação psicopedagógica pela anamnese que é a primeira etapa da avaliação. Consta de uma entrevista com os pais, onde são ouvidas as queixas e levantado os dados da criança (evolução geral, história clínica, história familiar e história escolar).
A partir das queixas iniciais, motivos do encaminhamento do aluno para a avaliação e dos elementos coletados durante a anamnese, o psicopedagogo ira definir a próxima etapa do processo. Se, a história clínica do educando revela indícios de problemas orgânicos é preciso solicitar uma avaliação dos profissionais adequados ao caso. Essa avaliação pode ser de cunho psicológico, fonoaudiólogo, neurológico, pediátrico, psiquiátrico, ortopédico, fisioterápico, etc.
A avaliação psicopedagógica pretende obter uma compreensão global da forma de aprender do sujeito e dos desvios que estão ocorrendo na sua aprendizagem. È, procura utilizar as contribuições de uma equipe multidisciplinar para compor o diagnóstico e a intervenção mais adequada a cada caso porque entende que o sujeito precisa ser considerado na sua totalidade.
Existe uma tendência geral, em se privilegiar na avaliação e intervenção psicopedagógica, o aspecto lúdico. Essa tendência é muito positiva para se ajudar as crianças com dificuldades na aprendizagem e/ou com deficiências e pode ser complementada com testes e atividades mais formais nas áreas cognitiva, afetivo-social e corporal, lingüística, etc.
No universo das pessoas com deficiência ou com dificuldades de aprendizagem é notório que os procedimentos de avaliação podem gerar situações extremamente inadequadas e injustas. Há vários casos de crianças encaminhadas para o atendimento psicopedagógico erradamente. As pesquisas revelam que, equivocadamente, inúmeras crianças recebem laudos avaliativos com base em premissas teóricas e instrumentos de diagnóstico inapropriados (BEYER, 2001).
O problema maior dos diagnósticos errados se situa na forma como se conduz o processo de avaliação desses indivíduos. O pior é que acabam se construindo preconceitos sociais para com algumas crianças, a partir de uma suspeita de deficiência ou de problemas de aprendizagem que não se justifica e não possui razão de ser. Toda esta situação torna-se ainda mais grave, quando o psicopedagogo (ou qualquer outro profissional) limita-se a oferecer um diagnóstico que somente serve para rotular aquela criança ou jovem, mas não subsidia o professor com alternativas de intervenção que facilitem o processo de ensino e aprendizagem.
Assim, pode-se observar que o psicopedagogo precisa se aliar a outros profissionais para construção de uma avaliação eficiente, no entanto, cabe-lhe uma tarefa diferenciada, a de investigar os"aspectos relacionados às condições de aprendizagem e de desenvolvimento da criança ¨ e propor uma intervenção psicopedagógica adequada.

TÉCNICAS E INSTRUMENTOS DE AVALIAÇÃO PSICOPEDAGÓGICA

O marco teórico básico de referência em que se apóia a avaliação psicopedagógica tal como a entendemos é o da concepção construtivista do processo de ensino-aprendizagem e da teoria sistêmica.
Ao mesmo tempo, entendemos que a avaliação psicopedagógica, deve nos permitir dispor de informações relevantes não apenas em relação as dificuldades apresentadas por um determinado aluno ou grupo de alunos, por um professor ou por alguns pais, mas também às suas capacidades e potencialidades. Desse modo, não falamos de deficiências nem de dificuldades, mas sim de necessidades educativas dos alunos que, necessariamente, devem ser traduzidas em situações passíveis de melhora e na concretização de auxílio e suporte.
Por trás de toda avaliação há sempre um julgamento técnico com base em um critério, mediado por um enfoque conceitual, técnicas e instrumentos não-neutros, que são uma medida interpretativa da realidade. A avaliação psicopedagógica requer um processo prévio de obtenção de dados e informações sobre o que pretendemos conhecer e melhorar. Trata-se de um processo amplo que teria de ser compartilhado e que, sob nosso ponto de vista, deveria incluir diferentes contribuições profissionais, porque não tem apenas uma dimensão individual ou do grupo que queremos avaliar, mas também uma vertente multiprofissional e institucional. A maneira de entender e atender à diversidade a partir de uma perspectiva global da escola determina o êxito ou o fracasso escolar, do mesmo modo que um enfoque psicopedagógico centrado unicamente no "problema¨ individual de um aluno.
A avaliação psicopedagógica supõe contar com o critério técnico de um profissional, do psicopedagogo ou da psicopedagoga, sem cair na pretensão de considerá-lo único e determinante. Os processos de ensino-aprendizagem mostram como cada pessoa e grupo de aprendizagem são únicos e podem se desenvolver com diferenças significativas, não apenas pela diversidade de habilidades físicas e cognitivas, mas também emocionais, manifestadas nas aptidões e atitudes relacionais, solidárias e de convivência, cujo desenvolvimento, inibição ou repressão podem influenciar os contextos.
Entendemos, portanto, que a avaliação psicopedagógica é um processo dinâmico, contínuo e preventivo; e, na escola, em particular, é compartilhado por diferentes profissionais. Esse processo tema finalidade de favorecer a tomada de decisões consensuais a partir de um acompanhamento contínuo das interações entre os diversos elementos que incidem tanto no ensino quanto na aprendizagem. Essas decisões devem traduzir-se em medidas factíveis, que os profissionais possam implementar para que o processo de ensino-aprendizagem leve ao progresso dos alunos como grupo e individualmente. Portanto, a avaliação psicopedagógica parte do reconhecimento de que em qualquer processo de ensino-aprendizagem existem elementos assimetricamente incidentes: os alunos, os professores e o currículo. Esses elementos configuram um clima relacional e não apenas de aprendizagem, que é determinado também pelos contextos escolares, profissionais, familiares e as concepções que criam esses ambientes com relação ao acolhimento, ao ensino, à aprendizagem e, de maneira geral, ao desenvolvimento integral de qualquer menino, menina ou adolescente.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sabe-se que a educação é um direito de todos os cidadãos, assegurando-se a igualdade de oportunidades (Constituição Brasileira). Inseridas neste contexto, ao estudarem, as pessoas passam muitas e muitas vezes pela avaliação, cujos aspectos legais norteiam o processo educacional através dos regimentos escolares. Assim, as avaliações são tidas como obrigatórias e, através delas, é expresso o "feedback" pelo qual se define o caminho para atingir os objetivos pessoais e sociais.
Hoje a avaliação, conforme defineLuckesi (1996, p. 33),"é como um julgamento de valor sobre manifestações relevantes da realidade, tendo em vista uma tomada de decisão". Ou seja, ela implica um juízo valorativo que expressa qualidade do objeto, obrigando, conseqüentemente, a um posicionamento efetivo sobre o mesmo.
A avaliação no contexto educativo, quer se dirija ao sistema em seu conjunto quer a qualquer de seus componentes, corresponde a uma finalidade que, na maioria das vezes, implica tomar uma série de decisões relativas ao objeto avaliado.
A finalidade da avaliação é um aspecto crucial, já que determina, em grande parte, o tipo de informações consideradas pertinentes para analisar os critérios tomados como pontos de referência, os instrumentos utilizados no cotidiano da atividade avaliativa.
Diante destas problemáticas, a Psicopedagogia contribui significativamente com todos os atores envolvidos no processo de aprendizagem e avaliação, pois exerce seu trabalho de forma multidisciplinar, numa visão sistêmica. Por isso, reforça-se o pensamento de que devemos exercer uma prática docente em parceria, em equipe, onde todos deverão voltar seu "olhar" e sua "escuta" para o sujeito da aprendizagem. Não há como refletirmos sobre nosso trabalho e buscarmos continuamente agregar valores a nossa formação, resignificarmos os conteúdos e adotarmos novas posturas avaliativas, se não conhecermos o ser que estamos educando e a grande responsabilidade que é a de participarmos da sua formação.
Consideramos a avaliação psicopedagógica um processo desenvolvido pelos psicopedagogos para definir as necessidades e as possíveis estratégias educacionais que um determinado aluno ou uma determinada turma possa requerer para alcançar o êxito escolar, entendendo-o como um progresso pessoal satisfatório de equilíbrio pessoal e bem-estar emocional, também como o alcance de outros objetivos curriculares específicos.
Esse processo deve ser contextualizado, isto é, deve partir da realidade imediata, escolar e familiar, em que se produzem as interações que conduzem ao êxito ou ao fracasso escolar. Restringir a avaliação psicopedagógica unicamente ao âmbito do desenvolvimento pessoal pressupõe a aceitação de limitações claras que podem nos afastar de respostas educacionais com expectativas reais de mudança nos processos interativos que conduzem ao fracasso escolar.

REFERÊNCIAS

BEYER, Hugo O. O processo avaliativo da inteligência e da cognição da educação especial: Uma abordagem alternativa. In: SKLIAR, C. Educação e exclusão: Abordagens sócio antropológicas em educação especial. Porto Alegre: Mediação, 3ª ed., 2001.
FERNÁNDEZ, Alicia. A inteligência aprisionada. Porto Alegre: Artes médicas, 1991.
HOFFMAN, Jussara. Avaliação, mito e desafio: Uma perspectiva construtivista. Porto Alegre, Mediação, 1998.
LUCKESI, Cipriano Carlos, Avaliação da aprendizagem escolar, São Paulo, Cortez Editora, 1996.

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