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Você tem dúvidas sobre as dificuldades que uma criança está apresentando na leitura ou escrita? Isso tem lhe preocupado? Então se atente para este artigo: trata-se de uma dislexia? Será?
Existe na sua família, entre pais, avós ou tios, histórico de dislexia? Atenção redobrada! A dislexia tem estreita relação com causas genéticas. Há traços biológicos em sua configuração. Assim, com muita frequência, na clínica, se descobre pessoas da mesma família com transtorno semelhante.
Se a dislexia é um assunto que está te preocupando – fruto das observações no desenvolvimento da leitura e escrita de uma criança ou adolescente - um ótimo caminho inicial é investigar históricos na família. Antigamente não tínhamos tanto conhecimento como temos hoje em relação aos transtornos da aprendizagem.
Graças aos avanços nos estudos da neurociência, da psicopedagogia, da psicologia cognitiva, entre outras áreas, temos muito mais entendimento hoje em dia sobre os fatores que distinguem a dislexia de outras problemáticas
Muitas pessoas sofreram severamente com a leitura e a escrita, mas não passaram por tratamento e nem acompanhamento. Por isso, pode ser que ao investigar esse assunto com os pais, tios e avós, estas mesmas pessoas não saibam identificar a dificuldade que tiveram fazendo relação com o conceito dislexia, e é por esta razão que devemos conversar sobre o tema sem necessariamente usar o nome do transtorno. Basta sondar se parentes bem próximos à criança sofreram durante muitos anos escolares apresentando dificuldades significativas na leitura e escrita.
Quando há histórico familiar o alerta deve ser maior, esse é um fator preponderante. As intervenções precoces amenizam significativamente esses quadros. Uma pessoa disléxica será sempre disléxica, pois não tem uma cura (pelo menos ainda não), no entanto, há enorme possibilidade de que o quadro não seja severo se a criança receber intervenção desde muito cedo. Com o trabalho precoce, a criança tem grandes chances de dominar a situação e adquirir habilidades que tornarão a dislexia um quadro controlável ao longo da vida. Quando não há intervenção precoce, a criança se alfabetiza com severas dificuldades e, conforme cresce, elas aumentam – o que faz surgir reações negativas na vida escolar. Na fase adulta enfrentará grandes problemas, pois de fato a leitura e a escrita se tornarão bastante difíceis.
Por outro lado, com as intervenções precoces e sistemáticas intervenções nas séries iniciais de escolarização, o quadro se tornará controlável na vida adulta.
Os pontos de vista são bastante diferentes ao pensarmos a dislexia no convívio familiar, na escola ou no entorno social. Ou seja, podemos propor especificidades distintas para tratar deste tema na família, com orientações próprias para os pais, assim como há necessidade de direcionar intervenções para a sala de aula. No entanto, este artigo se debruça sobre os aspectos gerais, com reflexões para os diferentes contextos.
Fala-se muito mais hoje em dia em dislexia do que em décadas passadas e não precisamos nos assustar com isto. Os avanços da medicina e da neurociência fizeram com que algumas disfunções fossem reconhecidas, melhor identificadas e é isso que causa a impressão de que existem mais disléxicos atualmente. A verdade é que os diagnósticos começaram a ser mais específicos e devemos ser muito gratos por isso.
Devido aos avanços dos exames por neuroimagem - Ressonância Magnética Funcional - os conhecimentos sobre essa disfunção ampliaram e, dessa forma, naturalmente, passamos a entender mais sobre o caso, identificando e diagnosticando-os com maior precisão. Se antigamente alguns casos passavam despercebidos, sem diagnóstico, hoje temos adultos que reconhecem a falta que fez para eles um diagnóstico preciso quando eram crianças. Isso serve como indicador para que diante dos novos conhecimentos descobertos não deixemos as crianças passarem uma vida toda com essa disfunção sem receber intervenções, inclusive precoces, devido sua eficácia.
Quando diagnosticada precocemente as possibilidades de melhorias e avanços são extremamente significativos e isso nos importa muito. A grande aliada na intervenção precoce é a formação da capinha dos neurônios na primeira infância – teoricamente chamada de mielinização – que nesta fase está no auge da formação. Ou seja, em casos de dislexia, se provocarmos as capacidades neuronais, com os estímulos adequados, as respostas frente à leitura e a escrita poderão ser menos severas ao longo da vida. Não vale muito a pena?
Como saber já na educação infantil se uma criança é disléxica? Isso não é loucura? Não é exagero?
Não, longe disso! Chama-se precaução, responsabilidade efetiva com a vida futura das crianças. Se uma criança disléxica passa quatro ou cinco anos de sua vida na educação infantil e mais uns dois anos nas primeiras séries do ensino fundamental para depois descobrirem e darem atenção ao caso, a época mais propícia para amenizar os sintomas terá ficado para trás.
Chamamos essa fase de período sensível ou período crítico, em relação ao processo de desenvolvimento neuronal. Por isso não devemos esperar, pois nesses casos a espera significa problema em excesso!
Dislexia não é uma doença. Trata-se de uma disfuncionalidade específica de linguagem que repercute na aprendizagem. Não é um problema de inteligência e sim de um modo peculiar de funcionamento dos centros neurológicos de linguagem. O tratamento é clínico, e não medicamentoso.
Por que uma criança com cerca de seis anos é capaz de saber tudo sobre animais, mas não é capaz de aprender o alfabeto? Por que uma criança de oito anos lê um texto, mas não entende o que leu?
Algumas crianças, mesmo muito inteligentes, apresentam severas dificuldades para ler e escrever e é por isso que mesmo antes da alfabetização precisamos nos dedicar a estas crianças.
O que importa muito quando já está detectada a dislexia?
• Pessoas disléxicas não têm dificuldades de compreensão da linguagem, as dificuldades são localizadas nas atividades de reconhecimento das palavras.
• Não diz respeito à deficiência visual ou auditiva, muito menos afetivo-emocional ou sociocultural. É muito importante entender isso para não misturar as coisas.
• A compreensão global da leitura fica comprometida, pois essas pessoas leem passo a passo, decodificando cada palavra, o que torna a compreensão bastante desafiadora.
• Conseguem melhores acertos nos questionamentos e problemas orais do que nos escritos.
• A dificuldade na matemática, em algumas situações, como na resolução de problemas, deve-se ao problema da leitura e não de raciocínio matemático. Elas geralmente se saem muito bem nas resoluções orais da matemática.
Quando devemos nos preocupar? Vamos por etapa para ficar um pouco mais fácil?
Entre quatro até seis anos: dificuldade para memorizar as letras das músicas infantis, pronúncia incorreta das primeiras palavras mesmo com a correção dos adultos; dificuldade para memorizar as primeiras letras; para reconhecer as letras iniciais das palavras e dificuldade para identificar rimas.
Com cerca de sete até nove anos: inabilidade para associar as letras aos sons, começa nessa fase a se tornar preocupante as trocas com as letras e é nesse período que se iniciam as reações negativas com a leitura.
Com cerca de nove anos em diante: a leitura é bem silabada, ao ler aparecem trocas nas palavras – ao invés de ler uma coisa lê outra, a interpretação nas leituras fica prejudicada, o que leva aos prejuízos em outras disciplinas, e não somente na língua portuguesa.
Importa no entanto que os adultos de forma geral sejam mediadores entre essas crianças e os sons da língua, pois deixá-las por si próprias a enfrentarem as complexidades da linguagem, seria o mesmo que soltá-las na piscina, sem que saibam nadar. Elas são muito capazes, necessitam apenas de mais informações visuais e auditivas.
Esse tema não se esgota, por isso encerro com a certeza de que as necessidades de continuidade são reais e concluo: classificar um sintoma não é rotular e sim entendê-lo para propor possibilidades de avanços!
Neste artigo o conceito aparece associado com a definição de transtorno e não como distúrbio, motivo: opção teórica baseada nas autoras Nádia Bossa e Newra Rotta. Há divergências entre as nomenclaturas transtorno e distúrbio, por isso cada autor opta pelo conceito que lhe for mais significativo em seus estudos. Como atualmente há uma preocupação em vencermos essa barreira teórica, temos visto uma preocupação em diferenciar problemas por lesão cerebral, chamada de distúrbio e, transtorno, quando a problemática é na funcionabilidade. No caso da dislexia, há problemática na parte funcional das áreas neuronais da linguagem, o que sugere e respalda o uso do termo transtorno. Não há, porém, grandes implicações. É apenas um ajuste teórico em respeito ao leitor(a).
Para aprofundamento do tema sugiro estudos sobre as pesquisas da Neuropediatra Newra Rotta e da Neuropsicóloga Nádia Bossa. No próprio site da Associação Brasileira de Dislexia há referência aos dois termos: transtorno ou distúrbio.
Gostaria de continuar a reflexão ou tem sugestões, perguntas e dúvidas para trocar? Escreva-me: romlpimentel@gmail.com, será um imenso prazer!
Roberta Leal Pimentel (www.robertapimentel.com.br)
Mestra em Educação, Especialista em Psicopedagogia, Pós-Graduanda em Neuroeducação e Pedagoga.
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sábado, 13 de outubro de 2012
Dislexia – entendimentos essenciais para famílias e escolas
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