Por Silvia Oliveira
Disponível em http://www.abpp.com.br/artigos/62.htm.
É importante ressaltar a psicopedagogia como
complemento, que é a ciência nova que estuda o processo de aprendizagem e
dificuldades, muito tem contribuído para explicar a causa das dificuldades de
aprendizagem, pois tem como objetivo central de estudo o processo humano do
conhecimento: seus padrões evolutivos normais e patologias bem como a influência
(família, escola, sociedade) no seu desenvolvimento (Scoz, 1992; Kiquel, 1991).
O psicopedagogo assume papel relevante na
abordagem e solução dos problemas de aprendizagem. Não procura culpados e não
age com indulgência. De acordo com Bossa (2000, p. 14), “é comum, na literatura,
os professores serem acusados de si isentarem de sua culpa e responsabilizar o
aluno ou sua família pelos problemas de aprendizagem”, mas há um processo a ser
visto, às vezes, os métodos de ensino tem que ser mudados, o afeto, o amor, a
atenção, isto tudo influi muito na questão. Nesse caso, o psicopedagogo procura
avaliar a situação da forma mais eficiente e proveitosa. Em sua avaliação, no
encontro inicial com o aprendente e seus familiares, que é um recurso
importantíssimo, utiliza a “escuta psicopedagógica”, que o auxiliará a captar
através do jogo, do silêncio, dos que possam explicar a causa de não
aprender.
Segundo Alícia Fernandes (1990 p. 117), a [...]
intervenção psicopedagógica não si dirige ao sintoma, mas o poder para mobilizar
a modalidade de aprendizagem, o sintoma cristaliza a modalidade de aprendizagem
em um determinado momento, e é a partir daí que vai transformando o processo
ensino aprendizagem.
Portanto a psicopedagogia não lida diretamente
com o problema, lida com as pessoas envolvidas. Lida com as crianças, com os
familiares e com os professores, levando em conta aspectos sociais, culturais,
econômicos e psicológicos.
A psicopedagogia é uma área que estuda e lida
com o processo de aprendizagem e com os problemas dele decorrentes. Acreditamos
que, se existissem nas escolas psicopedagogos trabalhando com essas
dificuldades, o número de crianças com problemas seria bem menor.
Para Bossa (2000), o psicopedagogo tem muito o
que fazer na escola: Sua intervenção tem um caráter preventivo,sua atuação
inclui:
•orientar os pais;
•auxiliar os professores e demais profissionais
nas questões pedagógicas;
•colaborar com a direção para que haja um bom
entrosamento em todos os integrantes da instituição e;
•principalmente socorrer o aluno que esteja
sofrendo, qualquer que seja a causa.
São inúmeras as intervenções que o
psicopedagogo pode ajudar os alunos quando precisam, e muitas coisas podem
atrapalhar uma criança na escola, sem que o professor perceba, e é o que ocorre
com as maiorias das crianças com dificuldades de aprendizagens, e às vezes por
motivos tão simples de serem resolvidos. Problemas familiares, com os
professores, com os colegas de turma, no conteúdo escolar, e muitos outros que
acabam por tornar a escola um lugar aversivo, e o que deveria ser um lugar
prazeroso.
Dentro da escola, a experiência de intervenção
junto ao professor, num processo de parceria, possibilita uma aprendizagem muito
importante e enriquecedora, principalmente se os professores forem especialistas
em suas disciplinas. Não só a sua intervenção junto ao professor é positiva,
também com a participação em reuniões de pais, esclarecendo o desenvolvimento
dos seus filhos, em conselhos de classe com a avaliação no processo
metodológico, na escola como um todo, acompanhando e sugerindo atividades,
buscando estratégias e apoio necessário para cada criança com dificuldade.
Segundo Bossa (l994, p. 23) "[...] cabe ao
psicopedagogo perceber eventuais perturbações no processo aprendizagem,
participar da dinâmica da comunidade educativa, favorecendo a integração,
promovendo orientações metodológicas de acordo com as características e
particularidades dos indivíduos do grupo, realizando processos de orientação. Já
que no caráter essistencial, o psicopedagogo participa de equipes responsáveis
pela elaboração de planos e projetos no contexto teórico/prático das políticas
educacionais, fazendo com que os professores, diretores e coordenadores possam
repensar o papel da escola frente a sua docência e às necessidades individuais
de aprendizagem da criança ou, da própria ensinagem.
O psicopedagogo atinge seus objetivos quando,
tem a compreensão das necessidades de aprendizagem de determinado aluno, abre
espaço para que a escola viabilize recursos para atender às necessidades de
aprendizagem. Desta forma o psicopedagogo institucional passa a tornar uma
ferramenta poderosa no auxílio da aprendizagem.
O aprendizado não é adquirido somente na
escola, é construído pela criança em contato com o social, junto com sua família
e no mundo que o cerca. A família é o primeiro vínculo com a criança e é
responsável por grande parte de sua educação, e de sua aprendizagem, e por meio
desta aprendizagem ela é inserida no mundo cultural, simbólico e começa a
construir seus saberes. Na realidade atual, o que temos observado é que as
famílias estão meio perdidas, não sabendo lidar com situações novas: pais que
trabalham o dia todo fora de casa, pais que brigam o tempo todo, desempregados,
usando drogas, pais analfabetos, separados e mães solteiras. Essas famílias
acabam transferindo para a criança, e esta entra num processo de dificuldade, e
acabam depositando toda a responsabilidade para a escola, sendo que, em
decorrência disso, presenciamos gerações cada vez mais dependentes, e a escola
tendo que desviar de suas devidas funções para poder suprir outras necessidades.
Cabe ai o psicopedagogo intervir junto à família das crianças que apresentam
dificuldades de aprendizagem, por meio de uma entrevista e de uma anammese com
essa família, para tomar conhecimento de informações sobre sua vida orgânica,
cognitiva, social e emocional.
Estar atentos no que a família pensa, seus
anseios, seus objetivos e expectativas com relação ao desenvolvimento do filho é
de grande importância para o psicopedagogo chegar a um diagnóstico. Vale lembrar
o que diz Bossa (1994), sobre o diagnóstico: "O diagnóstico é um processo
contínuo sempre revisável, onde a intervenção do psicopedagogo inicia, segundo
vimos afirmando, numa atitude investigadora, até a intervenção. É preciso
observar que esta atitude investigadora, de fato, prossegue durante todo o
trabalho, na própria intervenção, com o objetivo de observação ou acompanhamento
da evolução do sujeito". (BOSSA, 1994, p.74)
Às vezes, quando o fracasso escolar não está
associado às desordens neurológicas, a família tem grande participação nesse
fracasso. Percebe-se nos problemas, lentidão de raciocínio, falta de atenção, e
desinteresse. Esses aspectos precisam ser trabalhados para se obter melhor
rendimento intelectual.
A família desempenha um papel importante na
condução e evolução do problema acima mencionado, muitas vezes não quer enxergar
essa criança com dificuldades que muitas vezes está pedindo socorro, pedindo um
abraço, um carinho, para chamar a atenção para o seu pedido, a sua carência.
Esse vínculo afetivo é muito importante para o desenvolvimento da criança.
Sabemos que uma criança só aprende se tem o desejo de aprender, e para isso é
importante que os pais contribuem nesse processo.
É cobrado da criança que esta seja bem
sucedida. Porém quando este desejo não se realiza, surge a frustração e a raiva
que acabam colocando a criança num estado de menos valia, e proporcionando as
dificuldades de aprendizagem.
A intervenção psicopedagógica se propõe a
incluir os pais no processo, através de reuniões, possibilitando o
acompanhamento do trabalho junto aos professores. Sendo assim os pais ocupam um
novo espaço no contexto do trabalho, opinando e participando, e isto é de suma
importância.
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