Introdução
A
inclusão de alunos com necessidades especiais no sistema regular de ensino tem
sido um assunto bastante discutido, tanto nos segmentos educacionais quanto nos
sociais, no entanto falar de inclusão não é tarefa fácil, porém necessária.
Incluir não significa colocar o aluno na escola sem dá condições necessárias de
permanecia e assistência educacional, mas sim dá suporte pedagógico, além de um
ensino de qualidade que desenvolva de forma tridimensional as suas
potencialidades, sejam elas: cognitivas, motoras e afetivo-sociais.
Sabe-se
que existem varias leis que garantem o acesso e permanecia do aluno com
necessidade especial no sistema de ensino. A constituição brasileira em seu
inciso III do Art 208 afirma que o atendimento educacional ao portador de
necessidades especiais deve ocorrer “preferencialmente na rede regular de
ensino”. E esta afirmação é reforçada com a promulgação da Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.349/96) que prevê “currículos, métodos e
técnicas, recursos educativos e organização específicos” para o atendimento
adequado de Necessidades Educativas Especiais (art. 59, I) e “...professores de
ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes
comuns” (art. 59, III).
No
entanto, apesar destas leis assegurarem a presença dos portadores de
necessidades especiais no sistema regular de ensino ainda, encontramos inúmeras
barreiras que impedem que estas políticas de inclusão sejam realmente
efetivadas, dentre elas podemos citar, a falta de preparo dos professores, da
escola e dos membros que a compõem.
Dentro
desta perspectiva nos sentimos instigados a desenvolver uma pesquisa nas escolas
de ensino fundamental do município de Jequié-Ba para conhecer a realidade das
crianças com necessidades especiais e promover uma reflexão acerca da inclusão
destas no ensino regular. No decorrer do presente artigo estaremos apresentando
a metodologia e todas as discussões da pesquisa.
Educação e
Portadores de Necessidades Especiais: Um breve histórico
A
sociedade em que vivemos se caracteriza por estabelecer alguns padrões de
comportamento, tanto de corpo como de formas de ver o mundo e aqueles que não se
enquadram nesses padrões tornam-se marginalizados, rejeitados e excluídos do seu
convívio social. Ao recorrer à história da humanidade percebemos que esse
pensamento de exclusão ao diferente sempre esteve presente em todas as
sociedades, pois ao longo do tempo produziram e produzem uma visão padronizada e
classifica as pessoas de acordo com esta, elegendo padrões de normalidade e se
esquece de que ela é formada e construída na diversidade.
Devido
esta visão padronizada os Portadores de Necessidades Especiais (PNEs) sofrem com
a descriminação e a exclusão social pelo fato de possuírem algumas limitações,
sejam elas físicas, mentais ou sensoriais. Para compreendermos esta realidade
nada melhor que seguir o fio condutor da historia, pois ao reportarmos a
historia da inclusão dos PNEs no sistema de ensino vamos perceber que desde a
sua inserção no âmbito educacional estes sofrem com a descriminação e
segregação.
Observando os estudos da Sassaki apud Reinaldo Soler (2005, p.79-80) conseguimos
visualizar de forma precisa como se deu o processo histórico da educação dos
portadores de necessidades especiais, sendo que estes se divide em quatro fases
bastante distintas:
- Fase da Exclusão: anterior ao séc. 20, quando as pessoas portadoras de deficiência eram impedidas de freqüentar as escolas.
- Fase da Segregação: já dentro de séc. 20, quando as pessoas portadoras de necessidades especiais eram atendidas dentro de instituições. Entre os anos de 1950 e 1960, surgiram as escolas especiais, e mais tarde as classes especiais dentro de escolas comuns.
- Fase de Integração: apenas eram aceitas a s deficiências mais adaptáveis às classes comuns, não havia modificação no sistema, pois a escola continuava da mesma forma que sempre se apresentou. Os alunos é que tinham que se adaptar ao sistema escolar, e não o contrário.
- Fase de Inclusão: surgiu na metade da dec. 1980 e desenvolveu-se durante os anos de 1990. A grande evolução ocorrida nessa fase foi a de adaptar o sistema educacional às necessidades dos alunos.
Neste
sentido, percebemos que houve alguns avanças na historia dos portadores de
necessidades especiais uma vez que atualmente já existem leis que asseguram a
presença das pessoas com necessidades especiais nas escolas de ensino regular,
no entanto apesar destes avanças ainda encontramos muitas barreira que impedem o
acesso, a permanência e o convívio destas pessoas de forma efetiva no espaço
escolar, como também em todas instancias da sociedade.
Incluir
significa atender a todos os Portadores de Necessidade Especiais ou não,
respeitando as necessidades de cada uma delas, tendo profissionais capacitados e
espaço físico adequado. Os benefícios da convivência entre pessoas diferentes
são mútuos. Maria Tereza Mantoan1 (1999), diz que “reunir no mesmo espaço crianças comuns e as com
deficiência beneficia todo o sistema escolar”. E, ainda segundo ela:
(...) a inclusão é uma inovação, cujo sentido tem sido muito distorcido e um movimento muito polemizado pelos mais diferentes segmentos educacionais sociais. No entanto, inserir alunos com déficits de toda ordem, permanentes ou temporários, mais graves ou menos severos no ensino regular nada mais é do que o direito de todos á educação (MANTOAN, p. 35).
Como
citado anteriormente de acordo com a LDB 9394/96, no cap. 09, artigo 58, a
educação especial é entendida como uma modalidade de educação escolar, oferecida
preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos com necessidades
especiais.
No
entanto, acreditamos que é necessário acontecer alguns avanços com o intuito de
produzir mudanças significativas na realidade escolar, capaz de permitir que os
PNEs tenham uma educação de qualidade.
Conhecendo a
realidade das escolas Simões Filho e CAIC
Com o
objetivo de conhecer a realidade vivenciada pelas crianças com necessidades
especiais nas escolas publicas do ensino regular no município de Jequié-Ba e
promover reflexões acerca da inclusão destes no sistema regular de ensino, foi
realizado uma pesquisa com o tema “Crianças
com Necessidades Especiais: Reflexão sobre a inclusão nas escolas publica do
ensino regular”.
Esta foi
realizada no 1º semestre de 2008 nas escolas CAIC e Simões Filho que estão
localizadas nos Bairros do Jequiezinho e Joaquim Romão respectivamente. O CAIC é
uma escola que trabalha com crianças de 4 a 8 anos, por meio de ciclos,
funcionando nos turnos matutino e vespertino. Já o Simões Filho trabalha com o
ensino fundamental I e II nos turnos matutino, vespertino e noturno.
Caracterizamos este estudo como uma pesquisa exploratória, com delineamento no
estudo de caso e de natureza qualitativa. Utilizamos como instrumento de coleta
de dados a entrevista estruturada, realizada com 3 (três) estudantes e 6 (seis)
professores, sendo que destes 3 (três) trabalham com PNEs e 3 (três)
não.
Diante
das analises dos dados coletados constatamos que as crianças acreditam na
importância da escola, vêem este espaço como um lugar de aprender e
socializar-se, apesar de encontrarem algumas dificuldades como na estrutura
física da escola que não oferece uma infra-estrutura adequada e a falta de
professores qualificados, uma vez que estes não entendem a especificidade de
cada estudante e exige de mais, enquanto outros não dão muita importância e eles
acabam não acompanhando o processo de ensino-aprendizagem.
Quanto
aos professores relataram que sentem dificuldades de trabalhar com os PNEs
devido a falta de estrutura, acompanhamento e principalmente necessitam de uma
preparação para recebe-lo e oferecer a ele todas as possibilidades de
ensino-aprendizagem e não apenas acolher.
Neste
sentido, constatamos que apesar de existir leis assegurando o direito do PNE no
ensino regular, na pratica não acontece de maneira efetiva, visto que
encontramos algumas dificuldades como a estrutura física da escola e a falta de
corpo docente qualificado.
Considerações finais
A partir
das discussões traçadas neste artigo e da pesquisa nas escolas constatamos que
muito ainda precisa ser feito em nossa sociedade para que ocorra efetivamente a
inclusão dos Portadores de necessidade Especiais nas escolas.
Acreditamos que para ter uma educação de qualidade é necessário uma
infra-estrutura adequada, um corpo docente qualificado e para isso é necessário
que exista ações governamentais comprometidas com esse processo de mudanças e
adaptações, onde haja disponibilização de verbas, valorização e qualificação da
comunidade escolar, especialmente de professores e corpo técnico da escola,
sendo necessário inspecionar para que as leis sejam cumpridas. Dá mesma é
imprescindível que a sociedade aprenda a conviver com a diversidade humana,
através da compreensão e cooperação para que ocorra realmente uma
inclusão.
Deste
modo o processo de inclusão é amplo, com transformações pequenas e grandes,
tanto em ambientes físicos, como na sociedade, onde as pessoas sofrem
marginalizações desde suas raízes históricas, seja pela classe social que ocupa,
pela sua condição étnica ou pela orientação sexual, e para tentar mudar essa
realidade é necessária uma junção de esforços tanto daqueles que desenvolvem e
aplicam as políticas públicas como de todas as pessoas que compõem o universo
social.
Assim
para se ter uma educação inclusiva deve-se ocorre uma transformação profunda na
estrutura, na organização e na compreensão que poderemos vir a ter sobre as
relações sociais de modo geral, onde a exclusão realmente não mais ocorra. E,
para isso, através de condições humanas e materiais reais criadas no ambiente
escolar, poderíamos começar seriamente a pensar e exercer uma prática pedagógica
onde a inclusão, de fato, podesse começar a ser uma realidade.
Nota
1. Coordenadora do Laboratório de Estudo e Pesquisa em ensino
e Reabilitação de pessoas com Deficiência- Leped/Unicamp.
Referências
-
BIANCHETTI, Lucídio. Aspectos históricos da apreensão e da educação dos considerados deficientes. In: BIANCHETTI, Lucídio, FREIRE, Ida Mara (org). Um olhar sobre a diferença: interação, trabalho e cidadania. 3ed.Campinas,SP: Papirus, 2000.
-
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Lei n. 9.394, de 23 de dezembro de 1996, que fixa as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Brasília, MEC, 1993.
-
GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5.ed. São Paulo: Atlas, 1999.
-
MAZZOTA, Marcos J. S. Trabalho docente e formação de professores de Educação Especial. São Paulo EPU,1993.
-
MAZZOTA, Marcos J. S. Educação Especial no Brasil: histórias e políticas públicas. 4ed. São Paulo: Cortez,2003.
-
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO, Secretaria de Educação a distância. Salto para o futuro: Educação Especial. Tendências atuais Brasília,1998.
-
MANTOAN, Maria Teresa Eglér. Ser ou estar eis a questão: explicando o déficit intelectual. Rio de Janeiro: WVA editora,1997.
-
SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão. Construindo uma Sociedade para Todos. Rio de Janeiro: WVA, 2003
Nenhum comentário:
Postar um comentário