Por Adaildes Cristina Sales de O. Santos
Qual de nós nunca teve dúvidas a
respeito de como escrever determinada palavra?
Sempre lembramos das mais usuais e frequentes da língua, porém, muitas vezes, grafar palavras como “exceção”, “carroceria”, ou “aterrizagem” pode nos forçar a pensar sobre as normas da Língua Portuguesa, visto que não lembramos de imediato como escrevê-las. Para a criança, que tem menos tempo de contato com a língua escrita, menor repertório linguístico e vocabulário, essa tarefa é mais árdua ainda, pois implica em perceber fundamentalmente que na Língua Portuguesa não há, muitas vezes, uma relação unívoca entre a letra e o som. Ou seja, uma letra pode representar diferentes sons, e um som pode ser representado por diferentes letras. Como por exemplo:
Sempre lembramos das mais usuais e frequentes da língua, porém, muitas vezes, grafar palavras como “exceção”, “carroceria”, ou “aterrizagem” pode nos forçar a pensar sobre as normas da Língua Portuguesa, visto que não lembramos de imediato como escrevê-las. Para a criança, que tem menos tempo de contato com a língua escrita, menor repertório linguístico e vocabulário, essa tarefa é mais árdua ainda, pois implica em perceber fundamentalmente que na Língua Portuguesa não há, muitas vezes, uma relação unívoca entre a letra e o som. Ou seja, uma letra pode representar diferentes sons, e um som pode ser representado por diferentes letras. Como por exemplo:
-som /z/ pode ser escrito por
diferentes letras, como “x” (exemplo), “s” (casa), “z” (zebra);
-letra X pode representar diferentes
sons (som sss, som zzz, som ch, som cs).
O que é a ortografia e como vem sendo abordada pelas escolas?
O que é a ortografia e como vem sendo abordada pelas escolas?
A ortografia diz respeito à escrita
correta das palavras. Nos anos 70, acreditávamos que os problemas de leitura e
escrita, incluindo as dificuldades ortográficas, eram decorrentes de alterações
de funções psiconeurológicas que incluem, basicamente, os aspectos perceptuais
auditivos, visuais e motores.
Felizmente, no início da década de
80, com o advento da teoria piagetiana e com as descobertas de Ferreiro e
Teberosky (1979), abriu-se um leque com novas perspectivas para compreender o
processo de alfabetização. Estes estudos mostraram-nos, em síntese, que a
escrita não é uma transcrição fonética da fala, mas que pode ser vista como uma
representação simbólica da mesma. Além disso, que as crianças são aprendizes
ativos, portanto, constroem o seu conhecimento, incluindo aqui, o conhecimento
a respeito da norma ortográfica. Porém, construir o conhecimento não significa
que ortografia não deva ser ensinada.
Atualmente, observamos um panorama
confuso na educação oscilando entre uma supervalorização dos exercícios com
cópia de palavras, listas para memorização e aplicação de ditados (que não
ensinam, mas sim verificam a ortografia), estratégias utilizadas em demasia na
escola tradicional ou, em outro extremo, a falta de sistematização com a
ortografia, ou mesmo o abandono desse trabalho. Há ainda uma situação pior: a
escola não sabe como ensinar (e se deve ensinar), mas cobra a escrita ortográfica
de seus alunos.
Escrever corretamente significa que a criança não pode errar?
Escrever corretamente significa que a criança não pode errar?
Partindo do princípio de que a
escrita é uma representação simbólica e que as crianças constroem seu
conhecimento, o erro passa a ser visto como construtivo, ou seja, necessário
para que a aprendizagem ocorra. Os erros são vistos como “etapas de
apropriação”, podendo, inclusive, a “produção escrita da criança ser um indício
do quanto ela conseguiu se apropriar do sistema ortográfico” (Zorzi, 1998,
p.20).
Quando começar a ensinar a ortografia?
Quando começar a ensinar a ortografia?
O professor pode começar a pensar no
ensino sistemático da ortografia desde que seus alunos já tenham alcançado a
hipótese alfabética e comecem a fazer questionamentos: “Por que chave se
escreve com ch e xícara é com x?”, “Como se escreve passado?”, “Eu imaginava
que exemplo se escrevia com Z, mas não é? Por quê?”. Esses e outros infinitos
questionamentos demonstram que a criança já compreendeu, ao menos em parte, a
complexidade da língua.
Como avaliar as falhas ortográficas?
Como avaliar as falhas ortográficas?
Os instrumentos e estratégias
utilizados para avaliar os erros ortográficos podem incluir a análise do
material escolar da criança, a elaboração de produções de texto, bem como
alguns ditados, como ditado de pequenos textos, ditado específico para trocas
sonoras/surdas (p/b, t/d, f/v, c/g, ch/j) além de um Ditado Balanceado (Moojen,
1985).
A partir desses materiais o ideal é
o professor organizar as falhas ortográficas dos seus alunos classificando tais
erros, visto que o trabalho a ser desenvolvido e as técnicas utilizadas irão
depender do tipo de erros e frequência com que são cometidos, em geral,
partindo daqueles que são mais primitivos, até alcançar os mais
complexos.
Obs: para ver categorias de
classificação dos erros e sugestão de atividades ver bibliografia ao final.
Até quando podemos considerar que os erros fazem parte do processo normal de aprendizagem da escrita?
Até quando podemos considerar que os erros fazem parte do processo normal de aprendizagem da escrita?
Mesmo que a escola com o auxílio da
família desenvolva o trabalho com a ortografia de forma sistemática não podemos
deixar de considerar que seus resultados podem ser bastante heterogêneos.
Alguns indivíduos podem realmente ter um dom, ou uma habilidade linguística
melhor desenvolvidos, enquanto outros necessitarão de muito esforço para
escrever corretamente, mas, nos dois casos, escrever corretamente dependerá do
ensino na escola.
Para verificar como está se dando a
apropriação do sistema ortográfico é necessário seguir um folow up do aluno,
assim, a quantidade de tipos de erros que a criança apresenta, bem como a frequência
dos mesmos deve ir diminuindo à medida em que a escolaridade evolui. Caso isso
não esteja ocorrendo, o professor pode estar diante de um caso que, juntamente
com outros elementos, justificariam o encaminhamento de tal criança a uma
avaliação especializada com fonoaudiólogo e/ou psicopedagogo para a realização
de diagnóstico mais aprofundado, como por exemplo, de um Transtorno de Leitura
e Escrita.
Referências bibliográficas:
CAPOVILLA, A. ; CAPOVILLA, F. Problemas de leitura e escrita: como identificar, prevenir e remediar numa abordagem fônica. São Paulo: Memnon, 2000.
Referências bibliográficas:
CAPOVILLA, A. ; CAPOVILLA, F. Problemas de leitura e escrita: como identificar, prevenir e remediar numa abordagem fônica. São Paulo: Memnon, 2000.
CARRAHER, T.N. Explorações sobre o
desenvolvimento da ortografia em português. In: Isto se aprende com o ciclo
básico. São Paulo: Secretaria de Estado da Educação – CENP, p. 114-122, 1990.
KIGUEL, S. M. Identificação de
crianças disortográficas em sala de aula. Boletim da Associação Estadual de
Psicopedagogia de São Paulo. Nº 7, p. 30-44, abril, 1985.
MOOJEN, S. A escrita ortográfica na
escola e na clínica: teoria, avaliação e tratamento ( Casa
do Psicólogo , no prelo).
MORAIS, A. G. de. Ortografia:
ensinar e aprender. São Paulo: Ática, 1998.
ZORZI, J. L. Aprender a escrever:
apropriação do sistema ortográfico. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
__________. Aprendizagem e
distúrbios da linguagem escrita: questões clínicas e educacionais. Porto
Alegre: Artmed, 2003.
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