domingo, 22 de julho de 2012

A criança bipolar


Para saber se uma criança apresenta o Transtorno Afetivo Bipolar (TAB) é importante evitar justificar alguns comportamentos que podem revelar a doença. Há crianças que nascem mais animadas, com temperamento mais eufórico, com muita energia e criatividade, porém se adaptam bem ao meio-ambiente familiar ou escolar, não causando nenhum transtorno para ela mesma e/ou para os outros. São normais. Por outro lado, se ela é super-irritável, variando repentinamente entre a euforia e a tristeza, entre o desânimo e a hiperatividade (agitação), tendo falta de sono, sem ter nada que explique isto, e se já houve casos de TAB ou depressão séria em algum membro da família, os pais devem procurar orientação médica.
Pode ser mais difícil diagnosticar esta doença na infância porque geralmente pais e professores parecem encontrar uma “causa” para a criança estar eufórica ou depressiva. Surgem explicações lógicas, mas nem tudo o que é lógico é normal.
Apesar de não existirem testes padronizados para a Desordem Bipolar, o Dr. Valentim Gentil Filho, professor de psiquiatria da Universidade de São Paulo, cita um adaptado do livro “The Bipolar Child” (“A Criança Bipolar”), o qual reproduzo abaixo e que pode servir de alerta para os pais, professores ou outros cuidadores das crianças.
Assinale os comportamentos que a criança apresenta ou apresentou no passado. Se você assinalar mais de 20 itens, ela deveria ser examinada por um profissional da área.
A criança:
1- Fica aflita demais quando separada da família
2- Demonstra ansiedade ou preocupação excessiva
3- Tem dificuldade para levantar-se pela manhã
4- Fica hiperativa e excitável à tarde
5- Tem sono agitado ou dificuldade para conciliar o sono
6- Tem terror noturno ou acorda muitas vezes no meio da noite
7- Não consegue concentrar-se na escola
8- Tem caligrafia pobre
9- Tem dificuldade em organizar tarefas
10- Tem dificuldade em fazer transições
11- Reclama de sentir-se aborrecida
12- Tem muitas idéias ao mesmo tempo
13- É muito intuitiva ou muito criativa
14- Distrai-se facilmente com estímulos externos
15- Tem períodos em que fala excessiva e muito rapidamente
16- É voluntariosa e recusa-se a ser subordinada
17- Manifesta períodos de extrema hiperatividade
18- Tem mudanças de humor bruscas e rápidas
19- Tem estados de humor irritável
20- Tem estados de humor vertiginosamente alegres ou tolos
21- Tem idéias exageradas sobre si mesma ou suas habilidades
22- Exibe um comportamento sexual inapropriado
23- Sente-se facilmente criticada ou rejeitada
24- Tem pouca iniciativa
25- Tem períodos de pouca energia, ou alheamento, ou se isola
26- Tem períodos de dúvida sobre si mesma ou de baixa estima
27- Não tolera demoras ou atrasos
28- Persegue obstinadamente suas próprias necessidades
29- Discute com adultos ou é mandona
30- Desafia ou se recusa a cumprir regras
31- Culpa os outros por seus erros
32- Enerva-se facilmente quando as pessoas impõem limites
33- Mente para evitar as conseqüências de seus atos
34- Tem acessos de raiva ou fúria explosivos e prolongados
35- Tem destruído bens intencionalmente
36- Insulta cruelmente com raiva
37- Calmamente faz ameaças contra outros ou contra si mesma
38- Já fez claras ameaças de suicídio
39- É fascinada por sangue ou coágulos
40- Já viu ou ouviu alucinações
Quanto ao tratamento do Transtorno Afetivo Bipolar, o mesmo deve ser feito por médico psiquiatra e envolve o seguinte:
1)Medicamentos: antidepressivos, estabilizadores do humor, lítio, às vezes neurolépticos. Lembre-se: os mesmos medicamentos produzem resultados diferentes para pessoas diferentes e NÃO devem ser tomados sem prescrição médica. O lítio é altamente tóxico, embora com bons resultados para várias pessoas na fase eufórica. O médico responsável pelo tratamento deverá solicitar periodicamente exames de sangue para o controle do nível do lítio no sangue, buscando uma dosagem eficaz. Se for acima de 1.2mEq/l, pode causar intoxicação grave. Se for abaixo de 0.6mEq/l pode ser ineficaz. Não se automedique. Não tome medicamentos sugeridos por pessoas leigas, mesmo que elas ou conhecidos delas tenham obtido bons resultados.
Cafeína (bebidas com “cola”, “energizantes”), cocaína, anfetaminas (usadas ou não em “fórmulas para emagrecer”) podem desencadear a doença bipolar, entre outros distúrbios mentais. Anti-depressivos podem levar a pessoa para o pólo eufórico.
2)Psicoterapia – feita por psicólogo clínico ou psiquiatra, geralmente é ineficaz nas fases maníacas especialmente do Bipolar Tipo I porque a pessoa está refratária a qualquer conselho, advertência e psicoterapia. Ela poderá ser útil na fase depressiva, como orientação profissional no período inter-crises, e em quadros muito leves eufóricos. A terapia e aconselhamento familiar são úteis também.
3)Mudanças no estilo de vida – aceitar as limitações; eliminar o consumo de substâncias nocivas à saúde como o café e outras bebidas com cafeína; não ingerir nenhuma bebida alcoólica; ter horários fixos para alimentar-se; tomar três refeições ao dia (um farto desjejum, bom almoço, jantar leve 3 horas antes de dormir); intervalo de 5 horas entre uma refeição e outra; tomar muita água pura nos intervalos; caminhar pelo menos 30 minutos por dia, cinco vezes por semana; dormir em horário regular antes das 23h, adotar uma dieta preferencialmente vegetariana evitando produtos de origem animal; melhorar o contato afetivo com as pessoas, desenvolver uma filosofia espiritual na vida. Estudos científicos mostram que os que praticam uma fé religiosa têm melhores resultados na saúde em geral.

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